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José Mentor na lista do mensalão
Relator da CPI do Banestado recebeu dois cheques das empresa de Valério. Documentos do Banco do Brasil confundem senadores
Hugo Marques e Paulo de Tarso Lyra
BRASÍLIA - Mais um petista caiu na rede do mensalão. Fontes da CPI dos Correios informaram ontem que na quebra de sigilo das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza foi encontrado dois cheques de R$ 60 mil nominal à empresa ''J. Mentor e Associados'', que pertence ao deputado José Mentor (PT-SP).
Os cheques - identificados em um novo lote de documentos que chegou ontem à CPI, registrando pagamentos e transferências de mais de R$ 50 milhões efetuados por Valério por meio de suas contas no Banco do Brasil -, são de maio e julho do ano passado.
A informação poderá complicar a vida de José Mentor, que foi relator da CPI do Banestado, e engavetou as investigações do maior esquema de lavagem de dinheiro da história do país.
- Os cheques são referentes a um serviço de consultoria jurídica que prestei para Rogério Tolentino ano passado. Se não me engano, são duas parcelas, dois cheques de R$ 60 mil - confirmou Mentor, muito nervoso.
O petista não se recorda do período em que o serviço foi prestado, nem a natureza da consulta. Alegou que estava sem os papéis em mãos, mas que hoje, quando chegasse a seu escritório em São Paulo, conseguiria dar as explicações. Tolentino é sócio de Marcos Valério e chegou a contrair, em seu nome, um dos empréstimos em nome do PT.
- Ele me disse, na época, que era advogado de Valério. Só recentemente, pelos jornais, descobri que na verdade eram sócios - desconversou Mentor.
O nome de Mentor aparece na agenda da secretária de Valério, Karina Sommagio. Foram pelo menos dois encontros entre o petista e Valério, em São Paulo, na época em que o parlamentar relatava a CPI do Banestado. As empresas de Valério enviaram ao exterior mais de US$ 1,2 milhão, que foram parar na conta Beacon Hill, onde o dinheiro era lavado.
A CPI investiga a existência de outros cheques de Valério para Mentor. A quebra do sigilo bancário das empresas de Valério no Banco do Brasil confundiu até os especialistas da própria instituição, que tiveram de ser chamados na CPI dos Correios para tentar explicar a existência de cheques de até R$ 9,7 milhões supostamente sacados na boca do caixa. A primeira avaliação é que o empresário tenha movimentado R$ 59 milhões no BB.
Um cheque de R$ 9,7 milhões, nominal à DNA Propaganda, foi descontado na agência do Banco do Brasil na Avenida Amazonas, em Belo Horizonte, no dia 22 de maio de 2003. Não existe a identificação do sacador. Segundo um parlamentar que foi funcionário do Banco do Brasil, e viu os cheques, a gerente Elaine Moraes de Amorim imprimiu seu carimbo pessoal nos cheques sacados na boca do caixa, com a inscrição ''pague-se'', além de escrever ''conf. Wallessem'', lique lembra a palavra ''mensalão'' se lida ao contrário.
O vice-líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), confirmou que não tem dúvidas de que o mensalão está comprovado. E acrescentou que novos dados do Banco do Brasil poderão agravar ainda mais a situação dos envolvidos no esquema.
- O Banco do Brasil prometeu encaminhar a fita magnética mostrando a origem e o destino dos recursos sacados.
A CPI encontrou novos nomes de pessoas envolvidas com o mensalão. Foram encontrados depósitos para Paulo Leite Nunes e para Nestor Francisco de Oliveira, que é ligado ao deputado Roberto Brant (PFL-MG).
Ontem, o Banco Central prometeu acelerar o acesso a dados bancários de pessoas investigadas por juízes e CPIs. A instituição anunciou ontem a criação do Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional (CCS). O sistema começa a funcionar na próxima segunda, sendo que o cronograma total de implantação vai até fevereiro do próximo ano. O montante de registro estimado do novo sistema é de 133 milhões.
O diretor de administração do BC, João Antônio Fleury, negou que o anúncio do sistema tenha conotação política
- Essa é uma ação que já estava programada - afirma.
# escrito por Kodai : 7/22/2005 02:58:00 AM


