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Domingo, 31 de Julho de 2005, 21h21
MP reabre caso da modelo assassinada
MAGALI SIMONE
O Ministério Público de Minas Gerais volta a esmiuçar hoje o assassinato da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, 24, em agosto de 2000. O promotor Francisco de Assis Santiago, responsável pelo caso, deve ouvir a família Ferreira nos próximos dias.
Depoimentos concedidos em 2002 pela mãe e pelo irmão da garota revelam que ela viajava frequentemente para São Paulo e Brasília transportando malas suspeitas e hospedando-se em hotéis luxuosos, também frequentados por acusados de participar do esquema do mensalão.
Santiago irá procurar uma conexão entre a morte da modelo e o esquema de desvio de verbas públicas (mensalão).
“A princípio não ligamos o caso de Cristiana às denúncias de corrupção. Mas, como surgiram informações de que esse esquema de tranporte de valores desviados existia desde 1998, considero que seria melhor voltar às investigações. Ela pode ter sido morta por estar envolvida nessa história”, afirmou Santiago em entrevista a O TEMPO.
O caso Cristiana ganhou notoriedade em todo o país porque ela teria tido relações com importantes políticos do cenário nacional como o ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guais, o presidente da Cemig, Djalma Morais, o ex-presidente Itamar Franco, o ex-ministro Henrique Hargreaves, o ex-governador Newton Cardoso, entre outros.
O corpo dela foi encontrado no dia 6 de agosto de 2000, no quarto 1.601 do San Francisco Flat Service, localizado na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
Ela estava nua, deitada sobre a cama. Ao lado, resquícios de um raticida. Apresentava marcas de agressão, que foram ignoradas no confuso inquérito feito pela Polícia Civil na época.
Depois de mandar prender e soltar o empresário Luiz Fernando Novaes Ferreira, que seria ex-noivo de Cristiana e ex-assessor do ministro Walfrido dos Mares Guais, os policiais que apuraram o caso concluíram que ela tinha se matado tomando veneno.
Sentença
O promotor não duvida da autoria do homicídio. Santiago continua acreditando que o ex-detetive Reinaldo Pacífico, apontado como ex-noivo de Cristiana, é o responsável pelo homicídio.
”Na época que concluí o inquérito, apresentei como motivação o crime passional. Mas deixei claro que poderiam existir outros motivos para o crime. Pode ser que ela estivesse envolvida num grande esquema de desvios de verbas”, afirmou Para Santiago, outras pessoas podem ter ajudado Pacífico a matar a ex-noiva.
De acordo com o promotor, o juiz que acompanha o processo, Nelson Messias, deve dar nos próximos dias a sentença. Segundo ele, o ex-detetive aguarda o resultado do processo em liberdade.
Cristiana foi laranja em desvio de R$ 1 mi
Em entrevista concedida a O TEMPO em 28 de dezembro de 2002, o advogado de Cristiana Ferreira, Rui Caldas Pimenta, já considerava a possibilidade de a modelo ter sido morta como “queima de arquivo”.
Na ocasião, Pimenta revelou que ela seria laranja de uma grande esquema e que teria usado documentos falsos para se passar por uma viúva e receber parte de cerca de R$ 1 milhão que teriam sido desviados de uma das mais importantes secretarias do governo mineiro.
Nessa entrevista, segundo Pimenta, o esquema teria a participação de funcionários do extinto Banco do Estado de Minas Gerais – Bemge.
Pode ser só coincidência, mas em seu depoimento no último dia, Renilda Santiago de Souza – mulher do empresário Marcos Valério, apontado como um dos homens-chave do mensalão – admitiu que o casal já trabalhou nessa instituição financeira.
Ela no setor de treinamento, ele como escriturário, depois gerente, cargo do qual saiu para ser diretor do falido Banco Agrimisa.
Falsa identidade
Um ex-funcionário do Bemge, que não teve seu nome revelado por Pimenta na época, teria forjado documentos para que Cristiana assumisse uma identidade falsa, com a ajuda de um despachante, identificado apenas como César. Ela seria a “viúva” da pessoa que morreu antes de sacar o dinheiro.
“Era o dinheiro da conta de uma pessoa que teria recebido repasses do governo, mas morreu antes de sacar o dinheiro. Foi armado tudo para que ela se passasse pela viúva do homem que tinha direito àquilo. Alguém sacou esse dinheiro e o depositou em uma conta aqui, no Bemge de Belo Horizonte. Alguém sacou e não acertou com ela”, declarou.
Na ocasião, o advogado ressaltou acreditar ser de fundamental importância que o Ministério Público interrogasse esse despachante. “Se nós encontrarmos esse César, vamos encontrar o assassino”, afirmou.
Políticos
De acordo com Pimenta, um dos políticos que se relacionava com Cristiana a teria envolvido na fraude e estaria implicado no assassinato da modelo. Para o advogado, Cristiana teria sido executada depois de ter cobrado essa quantia que pretendia ganhar por participar do desvio de dinheiro público.
A modelo, conforme o advogado, já estava alugando uma casa, em frente ao flat onde foi morta, na avenida Álvares Cabral, na região Centro-Sul, onde pretendia abrir uma tapeçaria e uma boutique – provavelmente o dinheiro seria o capital inicial do negócio.
Pimenta também acredita que os políticos que teriam se relacionado com a modelo podem ter planejado o assassinato dela.
# escrito por Kodai : 8/05/2005 05:20:00 AM


