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Brasília, domingo, 14 de agosto de 2005
CPI vai convocar doleiros
Leonel Rocha e Lúcio Lambranho
Do Correio Braziliense
14/08/2005
10h08-A crise política vai se aprofundar esta semana com a decisão da CPI dos Correios de convocar nos próximos dias todos os doleiros que mantiveram qualquer relação financeira direta ou indireta com as empresas do publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o caixa 2 da campanha do presidente Lula. Os doleiros são o rastro do dinheiro enviado a empresas off-shore com sede em paraísos fiscais, abastecidas pela propina supostamente paga aos petistas por prestadores de serviços ao governo. Com isto, a comissão pretende identificar quem depositava nas contas de Valério no exterior, fonte do dinheiro que pagou as dívidas do PT com o marqueteiro Duda Mendonça. Entre os doleiros estão Jáder Calil e Haroldo Bicalho Silva, amigo e sócio de Cristiano de Mello Paz, um dos donos da SMPB junto com Renilda, mulher de Valério.
A comissão também pretende convocar um dos maioires doleiros paulistas, Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que está preso. Em bilhete enviado a familiares, Toninho revelou que a propina arrecadada pelos petistas é depositada em quatro bancos: Barnett Bank, Frist Union Bank, Comercial Bank e Replublic Bank, todos em Miami. Estas contas, segundo Barcelona, seriam gerenciadas pelo deputado José Mentor (PT-SP). A conexão Miami foi revelada pelo ex-tesoureiro do PPS paulistano, Rui Vicentini. Ele contou ontem ao Correio detalhes do conteúdo de 11 bilhetes escritos por Barcelona e repassados a seus familiares por Vicentini. Os dois conviveram na carceragem da Polícia Federal de São Paulo, depois da prisão do doleiro pela Operação Farol da Colina.
Nos bilhetes, segundo depoimento de Vicentini ao Ministério Público de SP, o doleiro revela a existência de quatro agências de viagem e câmbio de São Paulo — Avenca Viagens e Turismo Ltda, KLT Agência de Viagens, Apollo Câmbio e Turismo Ltda e Lumina Empreendimentos Ltda. — registradas em nome de outros dois doleiros: Raul Henrique Sraur e Richard André Waterloo (veja organograma abaixo).
Assim, os doleiros donos das quatro empresas de turismo e câmbio emitiam notas fiscais por supostos serviços prestados a fornecedores do governo e estatais, esquentando a propina. Esse dinheiro era trocado por dólar em uma operação de câmbio e enviado ao Trade Link Bank, off-shore com sede em Nova Iorque e que pertence ao Banco Rural. Segundo Vicentini, antes de chegar aos bancos em Miami, o dinheiro passava por paraísos fiscais como Cayman. Nos bilhetes, Barcelona revelou a Vicentini que o deputado José Mentor (PT-SP) seria o supergerente das contas abertas nesses bancos de Miami.
O surgimento dos doleiros pode agravar mais a crise política que começou há três meses com as investigações da CPI dos Correios. “A chave para explicar como o PT pagou suas despesas de campanha está na quebra de sigilo das contas off-shore no exterior e nos segredos guardados pelos doleiros”, prevê o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) . “Precisamos identificar quem abasteceu as contas em paraísos fiscais ou as abertas nos EUA”, exige. Já o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) quer saber a origem do dinheiro que chegava às off-shore de Valério responsáveis pelos pagamentos às off-shore de Duda. “Vamos criar uma Força Tarefa para pedir aos EUA a quebra dos sigilos dessas contas.”
Reportagem da revista Veja que está nas bancas revelou que Barcelona está disposto a contar tudo o que sabe sobre o dinheiro que o PT manda ao exterior via doleiros. Barcelona estaria sofrendo ameaças de morte. Na prisão, o doleiro teria recebido a visita de dois advogados do PT, um deles que se dizia amigo do deputado José Mentor. Queriam comprar seu silêncio. Até ser preso, Barcelona teria enviado ao exterior cerca de US$ 150 milhões. “Vi várias vezes essa rapaz chorando na cadeia com medo de morrer. Tenho todos os bilhetes guardados e num deles ele pede a esposa que esconda os documentos de depósitos da conta no Barnett Bank”, dispara Vicentini.
Para entender o braço mineiro do valerioduto, a CPI quer conhecer todas as operações realizadas pelos doleiros Jader Kalid Antônio, Raul Sraur, Ricard Waterloo e Haroldo Bicalho, este último sócio de Kátia Rabelo, dona do Banco Rural, e de Cristiano de Mello Paz, sócio de Valério. O braço paulista do propinoduto petista está nos segredos de Toninho da Barcelona. “Não conheço o Toninho da Barcelona nem pedi que o procurassem.Ignoro que o PT tenha enviado dinheiro ao exterior”, disse Mentor.
# escrito por Kodai : 8/14/2005 01:44:00 PM


