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Ligações Perigosas
Números arquivados em celular de modelo morta há dois anos podem comprometer políticos mineiros
As investigações sobre a morte de uma mulher belíssima, ocorrida há mais de dois anos, ameaçam trazer dores de cabeça para figurões da política e do empresariado de Minas Gerais. O corpo de Cristiana Aparecida Ferreira, de 24 anos, foi encontrado no quarto de um flat de luxo de Belo Horizonte, a poucos quarteirões do Palácio da Liberdade, em 6 de agosto de 2000. A polícia concluiu que a moça se matou com veneno para ratos. Promotores de Justiça, no entanto, desconfiam da versão e resolveram escarafunchar o caso. Na semana passada, eles puderam examinar o telefone celular que estava com Cristiana no flat. Permaneciam na memória do aparelho os dez últimos registros de chamadas discadas, recebidas e não atendidas. A descoberta serviu para excitar ainda mais as conversas nos corredores do poder no Estado, que já estavam em polvorosa por causa de outro objeto pessoal de Cristiana. Numa agenda, ela anotou os contatos de parte do primeiro escalão do governo mineiro, deputados, senadores e empresários.
Filha de um funcionário aposentado da Cemig, a estatal de energia elétrica de Minas, Cristiana morava com os pais, em Contagem, cidade industrial colada em Belo Horizonte. Apesar da origem simples, tinha padrão de vida alto. Circulava por gabinetes de secretários e parlamentares em Belo Horizonte e Brasília. O Diário Oficial do Estado registrou uma visita ao governador Itamar Franco, em que ela se apresentou com o título falso de Miss Minas Gerais. Segundo o promotor Francisco de Assis Santiago, que coordena o grupo de sete representantes do Ministério Público Estadual encarregados do caso, Cristiana era modelo e namorava pessoas importantes para abrir portas na carreira. Para a polícia, era uma garota de programa.
Até agora, o único nome conhecido a vir a público é o do presidente da Cemig e ex-ministro das Comunicações, Djalma Moraes. Dois dias antes de morrer, Cristiana telefonou três vezes para o gabinete de Moraes na estatal. Em depoimento à polícia, Moraes disse que recebeu a modelo duas vezes em seu gabinete. Segundo ele, a moça levava recomendação da Casa Civil do governo e queria pedir favores para os irmãos Cláudio e Eduardo, que trabalham na Cemig. Moraes afirmou ainda que ela o procurou uma terceira vez, mas não foi atendida.
No inquérito que aponta para o suicídio da modelo, a polícia afirma que ela sofria de depressão e tomava remédios controlados. "Com a porta trancada por dentro, ela poderia pedir socorro, porque o raticida provoca morte lenta e dolorosa", diz o delegado Alexandre Liberal, chefe da Divisão de Crimes contra a Vida. Os promotores argumentam que, no dia de sua morte, Cristiana pagou as despesas do flat e marcou horário com uma manicure. "É um comportamento estranho para quem pretendia se matar", afirma o promotor Santiago. O telefone celular poderá ajudar no impasse.
Bernardino Furtado
# escrito por Kodai : 8/05/2005 05:23:00 AM


