Enquanto comunistinhas de classe média e rebeldes de shopping center ficam se rebelando contra as gravadoras e o jabá, repetindo o discurso dos artistas como Lobão, que já se beneficiaram e muito do jabá, um outro lado da questão se forma: o outro lado do jabá.
Sim, pois é muito simples. Como as gravadoras têm interesse em vender, têm que colocar seus artistas para tocar. Para colocar seus artistas para tocar elas pagam jabá. E então vão colocando seus artistas nas rádios. Isso garante a diversidade musical e a sobrevivência das rádios. Tem rádio aí que faz sequência de uma, duas horas de músicas. Considerando que há poucos comerciais em rádio e que em tese, pra você tocar uma música tem que recolher ao ECAD, seria impossível manter no ar qualquer rádio.
Claro que os alternativinhos, aqueles que acham que a música que ouvem "não é comercial", embora todo artista queira mesmo é vender seu trabalho e ganhar dinheiro com isso, vão alegar que não há diversidade. Ledo engano. O Jabá até hoje garantiu um mínimo de diversidade. Não fosse exatamente o jabá, não teríamos rádios FM tocando músicas românticas (ditas bregas pelos rockeiros malas), samba, forró, etc. Nos anos 80, por exemplo, era basicamente só rock. Mas como quem geralmente reclama disso de gravadoras são exatamente os rockeiros, nessa época eles ficavam calados. Quando no final dos anos 80, onde só a Tropical FM tocava samba, os outros ritmos invadiram as rádios, por pressão de gravadoras distintas, os rockeiros se sentiram incomodados. O Samba e o Sertanejo, ritmos que sempre foram populares, mas eram discriminados nas FMs arrancaram o espaço do rock. E aí começou o discursinho anti-jabá.
É bom lembrar que se pode questionar a ética do jabá, porém é preciso situar todo o contexto e lembrar, por exemplo, que foi o Jabá que garantiu o surgimento de estrelas da MPB como Elis Regina, Roberto Carlos e tantos outros, como os grupos de rock dos anos 80..Embora não admitam, todos eles foram beneficiados pelo jabá.
Sim, pois se não houvesse o jabá, e esse é o ponto central do problema, a programação das rádios seria definida exclusivamente pelo gosto do dono da emissora. Então não teríamos diversidade porcaria nenhuma, já que tudo ficaria centrado no gosto (e no conhecimento) do dono da rádio.
E mais, a rádio sobreviveria de anunciantes. Sendo assim, só sobreviveiram os programs que tocassem músicas de audiência garantida, só os sucessos, pois ninguém seria doido de anunciar em programas sem público. Ou seja, o jabá acabaria vindo indiretamente por meio dos anúncios.
E assim, a tão propalada diversidade ficaria restrita a meia dúzia de artistas de sucesso. Ou alguém vai ter a cara de pau de dizer que as rádios FMs do Rio bancariam programas sobre "concertos para viola da gamba", "carimbó", "maracatu", "músicas de bandas marciais", "grades bandas de coreto", "orquestras de xilofone", etc? Claro que não. Então será apenas uma diversidade distorcida, manipulada pelo gosto dos donos das rádios e dos ouvintes que forem a maioria.
Finalizando, o maior exemplo de diversidade são exatamente as rádios que alugam espaço. E como funciona? Simples: eu pago e toco o que eu quiser lá. Assim é que temos a Bandeirantes do Rio, transmitindo programas de sindicatos, o Casaca, o Só Dá Vasco, programas portugueses, programas sobre música de bandas, etc. E o que é isso, senão o jabá feito de forma oficial? Alguma rádio daria espaço para vascaínos fazerem um programa sobre o clube? Claro que não. Talvez com jabá..e foi isso que a Bandeirantes fez: pague o jabá e fale o que quiser durante 1 hora. Foi assim que o funk ganhou espaço nas rádios. Na imprensa Fm, em horários alugados pelas equipes de som.
# escrito por Kodai : 2/24/2006 06:28:00 AM


