Por
Marcel de Almeida Freitas
Matilde Mastrangi foi outra ‘deusa’ da época, mas é cruel ao relembrar seus tempos de estrela do cinema da Boca-do-Lixo. Ela enxerga a Pornochanchada como um retrato da mediocridade cultural do Brasil nos anos 1970, válvula de escape aberta pelo regime militar. A seguir frases da entrevista que concedeu a Abreu:
“Eu saía todo dia no jornal “Notícias Populares” como uma deusa. Esse filme me projetou muito. Nunca gostei de ator, nunca gostei de artista, nunca gostei do meio, nunca gostei da profissão. Eu fiz cinema pela grana e eu entrei por acaso. Todo mundo sabe. Eles propuseram muito pra mim, pra Aldine (Müller) e pra Helena (Ramos) fazer pornochanchada normal e eles enxertariam cenas de sexo de outras pessoas. Nenhuma de nós aceitou. A Zaíra (Bueno) já aceitou. A Nicole [Puzzi] não sei. Não ponho a mão no fogo por ela. Talento ninguém tinha. Eu digo e repito: a época mais medíocre do Brasil, culturalmente, foi a década de 70. Eu hoje vejo isso. Naquela época não, eu não tinha nem cultura pra isso. Eu sou uma pessoa que fiz, não nego, não tive nenhum problema em fazer, como não tenho nenhum problema em dizer que fiz, mas se você pesar o que foi a pornochanchada, ela nada mais foi do que o retrato do Brasil. Acho... [que todos eram medíocres]. O David Cardoso fica danado porque não faz mais nada, mas nós não temos talento para continuar. Vou fazer o que? Na época a gente era rei. Não tinha nada melhor no Brasil. Quem competia com a gente? O pessoal do Cinema Novo estava todo no exterior. O que tinha de música? Quem estava escrevendo? A pornochanchada só floresceu por causa da ditadura. Se não tivesse ditadura não haveria pornochanchada. Havia as suas transinhas, mas era tudo mais discreto. Hoje vai tudo para as revistas. Tudo era censurado. Às vezes tinha censor nas filmagens. Os casos eram escondidos, porque a maioria era casada. De mim, se alguém falar eu processo. O único que falou foi o Cláudio Cunha [disse ter levado para a cama todas as atrizes que dirigiu, inclusive Matilde e foi decretada a prisão dele]. (Abreu, 2000: 225).
• ABREU, Nuno C. Boca-do-Lixo – cinema e classes populares. Campinas: UNICAMP, 2000. Tese de Doutorado.
Marcadores: anos 70, Brasil, ditadura, Matilde Mastrangi, pornochanchada
Fonte:http://www.eco.ufrj.br/semiosfera/anteriores/semiosfera07/conteudo_rep_mfreitas.htm
# escrito por Kodai : 8/25/2007 11:13:00 PM


