Rio - Faltam cadeiras e merenda. Sobram tumulto e confusão. A volta às aulas na rede municipal de Magé ontem foi marcada pela revolta de pais e alunos. No primeiro dia do ano letivo, eles denunciam que crianças tiveram aula sentadas no chão e comeram biscoito ao invés de uma refeição.

No pátio de duas escolas-modelo, que ainda não foram inauguradas, mas já estão abertas, alunos dividem espaço com máquinas, ferramentas e material de construção que podem representar risco à saúde, como cimento. Dentro das unidades, o cheiro de tinta fresca ainda é muito forte e faltam equipamentos básicos como computadores nas secretarias e carteiras para os alunos estudarem.

Ontem à tarde, pais e alunos enfrentaram tumulto na porta da Escola Municipal Genarino Cozzolino, no bairro Nova Marília, porque as crianças matriculadas estavam sendo chamadas uma a uma, e muitas ficaram de fora da lista. Segundo a mãe de um dos alunos, que não quis se identificar, muitos dos alunos que ficaram de for, são transferidos de outras duas unidades, que serão fechadas.

Revoltada, a costureira Flordelice Santos, 57 anos, que tem uma neta matriculada na escola, contou que alunos de três turmas, do turno da manhã, estudaram sentados no chão. "Não tinha cadeira e muitas mães levaram seus filhos de volta para casa". Foi o que fez a atendente Roberta Rodrigues, 22 anos. O filho, 7 anos, chegou para estudar no primeiro dia de aula, mas não ficou na escola, segundo a mãe, devido à falta de estrutura. "Levei meu filho para casa, porque na sala não tinha mesa nem cadeira. Para ficar sem fazer nada, é melhor ficar em casa", resumiu.

PROTESTO

Depois do protesto dos pais, funcionários da obra da escola levaram, de outras unidades, bancos para improvisar a falta de cadeiras.

A merenda também foi substituída por lanche, o que não agradou a pais e alunos. Segundo a diretora da Escola Selma dos Reis, os alunos comeram biscoito e beberam suco.

Pais de alunos da Genarino Cozzolino reclamam ainda da falta de uma passarela em frente à escola. A unidade fica às margens de uma rodovia e da linha férrea que cruza Magé. "Faltam sinalização adequada e uma passarela. É muito perigoso', disse Janete da Silva.

DIFICULDADES EM LICITAÇÕES APÓS OPERAÇÃO

A nova secretária de Educação de Magé, Ionete dos Reis, que assumiu ontem, depois do afastamento de José Cozzolino Filho, primo da prefeita Núbia Cozzolino, disse que a compra de material como cadeiras e computadores foi atrasada porque o município encontrou dificuldade em fazer licitações, depois que a Operação Uniforme Fantasma foi deflagrada, no dia 24 de janeiro.

"Nenhuma empresa queria participar das licitações e fornecer equipamentos para Magé", disse a secretária.

Além de prender suspeito de participação no esquema de desvio de mais de R$ 100 milhões, em seis municípios fluminenses, o Ministério Público e a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e de Inquéritos Especiais (Draco/IE) apreendeu para investigação documentos e computadores do Centro Permanente de Licitações de Magé.

No entanto, Ionete prometeu que as unidades serão inauguradas até o dia 10, quando está prevista a entrega dos novos equipamentos.